Uma análise sobre o desmatamento no Brasil nos últimos governos
E então? Quem desmata mais? Você deu um Google? Afinal, você que assistiu ao último debate presidencial… Resolveu dar um Google e conferir quem desmatou mais? Foi Lula ou Bolsonaro?
Primeiramente vamos esclarecer… Presidente obviamente não desmata. Muito provavelmente nenhum dos dois candidatos jamais cortou uma única árvore, afinal não está entre as atribuições do executivo federal desmatar nada. Entretanto diversas ações e diretrizes geradas no palácio do planalto podem afetar diretamente o resultado das taxas de desmatamento e queimadas na Amazônia e no Brasil em Geral. Melhorando esse raciocínio, vamos nos perguntar… O que realmente causa desmatamento? Quem desmata no Brasil? Por que desmata? Essa discussão política pequena sobre desmatamento, na verdade, esconde um profundo raciocínio econômico. Que, na verdade esconde perguntas muito maiores, que são: quais os tipos de investimentos feitos no brasil? E o que atrai ou repele investimentos no nosso território? Nós vivemos em um país de economia agrícola e agroexportadora. Dependemos de boas demandas internacionais para produtos como: grãos, carne e madeira.
Os principais investimentos feitos no brasil em rodovias, ferrovias, portos, visam atender demandas por escoamento de safra e distribuição de insumos. Desde a década de 1980, é documentado que abertura de estradas na Amazônia, por exemplo, intensifica o processo de abertura de áreas agrícolas. Avaliando superficialmente apenas esse dado, relativo à abertura de estradas, podemos ainda ver o governo de turno como uma poderosa força propulsora da supressão de vegetação, dado que, no brasil, a abertura de estradas é uma prerrogativa quase exclusiva do estado. Podemos avaliar dessa forma, ainda superficialmente, que um presidente eficiente em produzir infraestrutura publica, aumentará, por suas ações, o processo de desmate. Mas não nos afobemos no raciocínio. Como adiantei, considerar apenas esse fator é muito pouco. Vamos nos colocar no lugar de um agricultor ou pecuarista que possua imóveis rurais e viva do agronegócio… Você desmataria sua área para ter prejuízos? Essa é a pergunta mestre do nosso raciocínio… Você desmataria somente porque uma estrada foi construída próximo a sua fazenda? Quantas perguntas ainda existem dentro do processo de tomada de decisão para a abertura de um negócio rural?
Vamos nos colocar um pouco na pele de um produtor rural brasileiro que está planejando abrir uma fazenda produtiva e lucrativa. Teríamos que tomar decisões técnicas, baseadas em profundo conhecimento de mercado e de sistemas de produção pra decidir o que produzir, quando e como produzir, soja, carne, madeira, milho, cana-de-açúcar, cacau…
As perguntas que ocorrem nesse processo são: qual cultura irá me dar maior taxa de retorno? Há previsão de que minha lavoura se mantenha rentável nas próximas décadas? Meu investimento pode levar décadas para dar retorno, teremos estabilidade durante todo esse período? Qual o risco da minha área ser invadida? Algumas variáveis são muito difíceis de medir, outras são mais claras. Risco de invasão e estabilidade de governo são muito subjetivos, mas o valor de investimento, o custo de produção, o provável preço de venda e a taxa de retorno por unidade produzida, são dados muito mais palpáveis. Vamos avaliar um gráfico rapidamente:

Ele traz uma importante informação sobre preço da madeira em marcados internacionais, observe que entre 2012 e 2017 ocorreu uma grande queda do preço da madeira em todos os grandes mercados consumidores. Esse gráfico casa bastante com o próximo gráfico, que mostra as taxas de desmatamento na Amazônia brasileira.
O preço da madeira é muito importante na decisão de implantação de uma fazenda no brasil. Muito frequentemente a venda da madeira extraída de uma área recém aberta é o primeiro retorno que uma fazenda tem ao receber as autorizações para sua implantação. Legalmente, um produtor com autorização de desmate, vende toda a madeira serrada que extrai de sua propriedade. Esse aporte financeiro reflete nos próximos passos da fazenda, ajudando a financiar implantação de infraestruturas, correção de solo, aquisição de insumos e custos financeiros em geral. Fica obvio por essa avaliação que o preço da madeira faz bastante diferença na tomada de decisão inicial sobre implantação ou não de um negócio rural. Mas continuando nosso raciocínio, vamos avaliar um próximo gráfico:
Esse gráfico mostra os índices de preço dos principais tipos de proteína animal. Em relação a desmatamento no Brasil, o índice mais importante é o da carne bovina (Beef). Observe que entre 2010 e 2016 ocorreu uma certa estabilidade nos preços. Coincidente com a queda nos índices de desmate observados. Volte agora ao ponto de vista do nosso produtor hipotético, você iniciaria uma fazenda pra produzir gado na Amazônia com os preços em baixa? Lembre-se que você estará iniciando um novo negócio, em regiões de difícil acesso, com problemas logísticos para escoamento e provavelmente com baixa rentabilidade inicial por ter um maior custo de produção pela dificuldade inicial de contratar e treinar pessoal, transportar insumos, realizar bons contratos de venda com consumidores que já tem seus fornecedores. Fica óbvio, por esse dado e pelos outros já apresentados, que uma queda nos índicies de desmate foi praticamente natural, nos últimos governos do PT. Por outro lado, nos últimos 3 anos, observa-se um grande aumento dos preços internacionais tanto da madeira quanto da carne, os principais produtos oriundos de lavouras na Amazônia.
Convido o leitor novamente a avaliar a situação na pele do produtor rural. Após mais de seis anos de baixas nos preços internacionais dos nossos produtos de exportação, e dificuldades econômicas claras para a ampliação de novos investimentos, ocorre uma virada no mercado, abrindo a possibilidade de novos negócios. O que você faria? Fica claro, por esse ângulo, que são os preços e características intrínsecas aos negócios que determinam a maior parte dos investimentos. Por outro lado, convido agora que façamos um retorno as questões mais subjetivas sobre a tomada de decisões corrente. Avalie o seguinte gráfico:
Veja que historicamente o brasil teve, em geral, baixas taxas de investimento em relação aos seus pares, países emergentes, mesmo assim, particularmente a partir de 2013 e até 2019, ocorreram quedas significativas nas taxas de investimento. Essas quedas nas taxas de investimento coincidem com o período do governo Dilma e as descobertas de crimes envolvendo justamente investimentos em infraestrutura feitos pelo governo federal. Veja então que entre 2012 e 2018 o Brasil viveu uma tempestade perfeita, onde preços internacionais dos nossos produtos e a falta de investimentos em infraestrutura dificultaram bastante a implantação de novos negócios. E inversamente, a partir de 2019, ocorreu uma reversão desse processo com um significativo aumento dos preços internacionais da carne e da madeira concomitante a um discreto aumento das taxas de investimentos.
Fazendo um resumo desse quadro geral, podemos supor que incertezas econômicas a partir de 2012, quedas nas taxas de investimento e dos preços dos produtos, reduziram bastante o ânimo de investidores e produtores rurais, praticamente desligando o processo de implantação de novos investimentos. Veja o gráfico a seguir:
A partir do segundo mandato do ex-presidente lula e até o início da pandemia, nossa economia, ou teve quedas significativas no nosso PIB ou cresceu discretamente. Pesa avaliar o período do Governo Dilma, onde tivemos 6 trimestres seguidos de queda na atividade econômica. Esse período de resseção também coincide bastante com os períodos de queda nos índices de desmate. E da mesma forma a retomada da atividade econômica, a partir do terceiro trimestre de 2020, também coincidem com o aumento dos índices de desmate.
Voltando para nossa conclusão, e para finalizar nosso raciocínio, fica óbvio que no segundo governo Lula e no Governo Dilma, quedas na atividade econômica e quedas nos preços dos alimentos e dos produtos de origem florestal direcionaram para baixo os índices de desmatamento na Amazônia. O mais provável, pela análise fria dos números, é que a incapacidade de promover investimentos significativos no Brasil, tenha provocado as quedas nos índices de desmate. E por outro lado, no governo atual, a retomada da atividade econômica e o aumento dos preços dos produtos tenha pressionado para cima as taxas de desmate. Pra mim está bastante claro quais processos realmente intensificam o desmatamento no brasil, e eles são prioritariamente econômicos, ligados a nossa capacidade de investimento e aos preços dos principais produtos agrícolas, todo o resto é somente circunstancial.
Apresentamos esse texto como uma forma de ampliar e trazer luz a esse tema. Convido também os leitores do @opiauiense ao debate. Muito foi falado sobre desmatamento nos últimos anos, sempre com mais barulho e sensacionalismo do que apresentação de dados. Agradeço sempre a oportunidade concedida pela página de expor meus pontos de vista.
Muito Obrigado!